Diálogos Entre Bakhtin e o Brasil Bolsonarista

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Mikhail Mikhailovich Bakhtin, foi um filósofo e pensador russo, teórico da cultura europeia e das artes. Bakhtin foi um verdadeiro pesquisador da linguagem humana, seus escritos, em uma variedade de assuntos, inspiraram trabalhos de estudiosos em um número de diferentes tradições (o marxismo, a semiótica, estruturalismo, a crítica religiosa) e em disciplinas tão diversas como a crítica literária, história, filosofia, antropologia e psicologia.

Talvez uma das coisas mais importantes que aprendi com Mikhail Mikhailovich foi as várias vozes dentro de um discurso, seja ele qual for, qualquer discurso, de qualquer época, está recheado de símbolos e texturas as quais a gente pode chamar, aqui eu quero ir um pouco mais além e falar da cultura do riso.

A seriedade utilizada pelo poder, intimidava, exigia e proibia suscitando terror, subserviência, louvor e bênção do povo. Nela o tom oficial era gritante, oprimindo, mentindo, acorrentando, distorcendo. Para Bakhtin ― ao contrário do riso, a seriedade estava impregnada  interiormente por elementos de medo, de fraqueza, de docilidade, de resignação, de mentira, de hipocrisia ou então de violência, intimidação, ameaças e interdições.

Aí chegamos ao contexto atual brasileiro, um Brasil cuja língua portuguesa permite ligações metálicas muito intensas entre o significado e o significante, dentro do contexto da pós-verdade isso pode ser aplicado como uma livre interpretação dos fenômenos sociais e culturais do nosso tempo, ou de uma maneira mais explícita, um mero desprezo à intelectualidade.

Isso parece anacrônico se somado a um mundo onde a informação passa a ser o maior lastro para a moeda de troca.

Muito além da facada e suas teorias conspiratórias, ausência de Jair Bolsonaro nos debates Foi algo simbólico, porque um candidato como ele jamais conseguiria se comunicar com todas as derivadas de seu eleitorado. Não por ele ser ignório, primitivo, fã de Romero Britto, mas por uma figura na posição dele atender tantas demandas que a defesa da moral familiar seria paradoxal ao incorreto discurso do deputado comedor de gente.

A carnavalização brasileira, a utilização de máscaras e o discurso proto-medieval da opinião pública é um dos fatores que contribuíram para que o Brasil fosse território fértil para a instauração da doutrina de choque.

A necessidade de máscaras para o escárnio do poder e a utilização protozoária do idioma como ferramenta de comunicação, faz com que o negar-se a responder um jornalista ou a saudação da bandeira americana faz -nos compreender que o filo bolsonarista é um organismo complexo, um pouco acima da Amoeba proteus e logo abaixo dos muares no sentido deletério que a ignorância cega e cristã pode emanar em um povo que não lava a mão pela falta de saneamento básico.

A gente pode entender que o discurso polifônico do bolsonarismo se aplica a uma estética que é a variável das revistas Marvel com um paramilitarismo  evangélico panfletário aos moldes das Testemunhas de Jeová que batem em nossa porta aos domingos de manhã. Por isso podemos entender a complexidade do fenômeno “mito” como aglutinador de coisas tão oposta como roqueiros, militares e evangélicos, a profusão superlativa do discurso simplificado, ou seja, a fala chula pode atingir vários ouvintes de diferentes nichos em diferentes formas “ah ele é machista mas combate bandido”, “Bolsonaro é louco mas é diferente de todos os outros”, “ele é moderado eu quero a volta do regime militar”, esses exemplos de fala são reflexos quais a frase “bandido bom é bandido morto” pode trazer, uma simplificação de um fenômeno social que justamente por ser sintetizado a uma frase pode atingir vários níveis de discurso e tornar a compreensão do fenômeno complexa, por isso, as massas amorfas e sem posição de fala, podem ser manejadas em sua compreensão, fenômenos da pluralidade monossilábica da nova década que estamos entrando, onde o Brasil caminha para uma teocracia de discursos múltiplos.