Do OXO (jogo da velha, 1952) ao Pong (1972). A história dos primeiros videogames


A febre dos jogos eletrônicos já se demonstrava nos primeiros laboratórios, contagiando os cientistas envolvidos. Prenúncio de um “vício” pós-moderno, parceiro do desenvolvimento tecnológico

Em 1918, ao fim da Primeira Grande Guerra, as tabelas de balística foram substituídas nos quartéis generais do Exército pelas primeiras calculadoras eletrônicas. Computadores que ocupavam andares inteiros de um edifício passaram a ser fundamentais no desenvolvimento da inteligência na “arte de guerra”.

Em meio ao desenvolvimento dos primeiros protótipos daquilo que veio a ser chamado de “software”, os cientistas militares criavam novas possibilidades eletrônicas para que pudessem cristalizar suas ideias, buscando “atalhos” os mais diversos através de componentes eletrônicos. Nos anos 1940 durante a II Guerra Mundial os computadores já eram parte do processo de toda criptografia militar. Fundamentais para o desenvolvimento de códigos e senhas que resultariam em batalhas e ataques surpresas, bem como para o desvendamento destes mesmos códigos, quando vindos do inimigo.

Mas como nem tudo era chumbo grosso dentro de um lugar como o MIT (Massachusetts Institute of Technology), o braço tecnológico do governo norte-americano, ou da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, cientistas procuravam também alguma diversão. E na linguagem nerd, diversão e tecnologia não se dissociam.

Diversos jogos foram desenvolvidos a partir de modelos eletrônicos, mas nada que poderia ser chamado de “videogame”. Até que em 1952, Alexander S. Douglas, um professor inglês em Cambridge, criou para seu próprio entretenimento, aquilo que pode ser assim chamado, já que tratava-se de um “jogo da velha” veiculado ao visual através dos raios catódicos de um aparelho de televisão.

Era parte da tese de doutorado de A.S. Douglas o OXO (jogo da velha) desenvolvido por ele. Mal sabia que ele havia criado o primeiro videogame do mundo. Mais que isso, é muito provável que tenha sido este o ponto de partida daquilo que veio a ser chamado no século seguinte de “cultura geek”.  Douglas recebeu seu título de doutor, e as diversões eletrônicas começaram a se tornar parte da vida científico-militar. Apesar de seu jogo só poder ser desfrutado pelo pessoal do seu próprio laboratório, dado que só podia ser jogado em um computador, — o ESDAC — é fato que ciência, guerra e diversão caminharam lado a lado a partir de então.

Em 1958, no Brookhaven National Laboratory, em Upton, NY, o físico William Higinbotham desenvolve, pensado para uma tela de ociloscópio, o Tennis for Two. Na telinha, uma luz verde fazia as vezes de bola, que ia de um lado para o outro passando por cima de uma rede (uma luz verde fixa) simulando uma partida de tênis vista de lado. Para rebater a bolinha, os jogadores tinham que apertar um botão e girar um outro para definir o ângulo em que a bolinha seria rebatida. Ali já havia, portanto, o primeiro joystick.

Filas enormes se formaram à frente do laboratório, dado que o Brookhaven iniciou a promoção de visitações abertas ao público para que todos conhecessem as maravilhas criadas pela ciência americana ao mundo. Isso já era parte da propaganda. E tinha uma causa.

Com o acirramento da Guerra Fria e o início da corrida espacial entre URSS e os EUA, o desenvolvimento de jogos não poderia resultar em outro imaginário que não fosse o de guerra espacial. Em 1961, Wayne Witaenem, Steve Russel e Martin Graetz, estudantes do MIT, desenvolveram o primeiro jogo em um “minicomputador” — o PDP-1 — e o chamaram Spacewar!.

Tratava-se de dois pontos de luz (duas “naves”) que tinham a capacidade de disparar pequenos pontos de luz uma na outra, com uma estrela (um ponto de luz) ao meio da tela que fazia força gravitacional às naves. Cada uma tinha determinado tanto de combustível e munição. Enfim, o primeiro jogo de guerra — depois de tantas guerras — estava enfim desenvolvido, ironicamente já em um imaginado ambiente espacial.

Outro fato interessante, é que os três estudantes cientistas ficaram absolutamente viciados no jogo, denotando aí outro grande fenômeno do que viria a ser o videogame no futuro. Bastava uma pequena folga para que o trio se visse envolvido em verdadeiros torneios internos, o que acabou envolvendo também outros membros do laboratório, igualmente viciados na coisa, para além dos horários depois do trabalho. O PDP-1 já ficava pequeno para a verve espacial dos rapazes.

O sucesso do game foi tanto que a DEC — fabricante do PDP-1 — começou a distribuir seus modelos par ao mundo já com o Spacewar! instalado de fábrica. Qualquer semelhança com o mundo de hoje não é mera coincidência.

Durante os anos da década de 1960, muitos games foram desenvolvidos a partir das plataformas de OXO, Tennis for Two e Spacewar!, até que em 1966 aparece o engenheiro Ralph Baer. alemão naturalizado americano. Fugido da Alemanha nazista em 1938 para a América, Ralph acabou voltando durante a guerra para a Alemanha, a serviço dos EUA. De volta dos campos de batalha, formou-se em engenharia elétrica e começou uma verdadeira vida de inventor. Nos 60’s, trabalhava para emissoras de rádio e tevê, sempre cuidando das parafernálias eletrônicas das mais diversas estações. Um tipo imprescindível até os dias de hoje em qualquer empresa.

Predominantemente inventor, Baer insistiu até que naquele ano do Revolver dos Beatles, desenvolveu uma geringonça de baixo custo que rodaria jogos eletrônicos na televisão. Em 1967, ele chegou ao primeiro esboço do que viria a ser um joguinho de Ping Pong – a Chasing Game consistia de uma tela com dois quadrados que se moviam  controlados pelo jogador. Registrou a ideia em patente, e em 1968 apresentou o protótipo do videogame ao mundo: o Brown Box. Ele vinha com quatro opções de jogo (Ping Pong, Futebol, Voleibol e Tiro), o Brown Box ainda tinha uma espingarda com células fotoelétricas. De fato, não havia nada igual na época. Estava lançada a sorte. Faltava a indústria.

Até que a Magnavox, braço da holandesa Phillips na América, apostou na ideia. A proposta resultou no Magnavox Odissey 100. O primeiro console da história. Mas foi um engenheiro norte-americano, Nolan Bushnell quem elevou (e levou a grana, após copiar descaradamente do jogo de tênis de mesa eletrônico desenvolvido por Ralph Baer) o console às casas das pessoas, com o do Magnavox Odissey 100 e uma versão do jogo Pong, a primeira grande febre. Houve briga judicial por parte de Baer, mas nada impediu Bushnell.

Tratava-se de um jogo simulador de tênis de mesa (pingue-pongue) acoplado ao aparelho de tevê. Bushnell fundou a Atari. E as coisas nunca mais foram as mesmas.

O videogame agora era definitivo.

Ouça. Leia. Assista:

A História dos Videogames – Evan Amos

Imagens: reprodução