Não, eu não lamentei em momento algum a morte daquele militar iraniano antes da pandemia, o que eu lamentei foi ver pessoas que se dizem “ especialistas em Oriente Médio” discutir em uma questão tão complexa de uma maneira tão rasa, discutir Oriente Médio sem discutir 1916; O que houve nesse ano?! Foi o ano quando as potências europeias somadas aos norte-americanos passaram a régua dividindo os territórios do oriente próximo, nesse mesmo ano eles prometeram aos árabes engajados no pan-arabismo, judeus sionistas, curdos, persas entre outros povos um território. A maneira com que foi feita essa divisão não levou em conta critérios étnicos, culturais e religiosos, apenas visou criar um corredor de países entre O Golfo Pérsico e o Mar Mediterrâneo para quê a rota de exportação de minérios e do petróleo ficasse mais fácil para os europeus principalmente britânicos e franceses.
Para garantir esse poder fora colocado em cada um desses Estados, governantes fantoches, como foi o caso do Xá da Pérsia, a Pérsia não tinha uma divisão de renda muito boa e não era um paraíso da liberdade, enquanto o líder do país abria as portas para o Ocidente ele em contra partida injuriava a população local, sobre tudo os líderes xiitas que eram comandados pelo exilado líder Aiatolá Khomeini. E não, não vá pensando que estou fazendo uma defesa da revolução iraniana, e sim apenas contextualizando como o capital pode afetar na Liberdade coletiva de um povo.
A revolução iraniana, nos meus olhos, é uma das mais importantes da segunda metade do século XX, claro que não tem a importância global que tiveram as revoluções Francesa, Russa e Americana, porém circunstancialmente essa revolução é atuante no jogo geopolítico atual, uma vez que ela leva e levou a centenas de reivindicações de cunho islamita da vertente xiita em todo o mundo islâmico, que vai da Indonésia até a Nigéria, estamos falando de países muito populosos de vital importância para o desenvolvimento em cada uma das regiões e que são atores de importância Vital para estabilidade de todo o mundo muçulmano.
Eu que sou filho de um país rico em recursos naturais e que exporta commodities enquanto paga r$ 5 por um litro de gasolina, posso entender alguma dessas revoltas, mas não posso concordar em gênero e grau. É paradoxal ver algumas das pessoas que criticam tanto os evangélicos no Brasil agirem em defesa do regime iraniano, todo regime que pune homossexuais, mulheres adúlteras e diz aquilo que devemos vestir é um regime podre! Quando esse regime faz isso apoiado em uma cultura milenar e tão bela, como é o caso da cultura islâmica da Pérsia, ele está praticamente matando a própria cultura islâmica, porque não dá liberdade de atuação e pensamento para os próprios muçulmanos que estão sob a batuta desse regime.
Seria muito mais fácil eu gritar palavras de ordem e defendendo um dos lados, mas aprendi as duras penas que o povo do Irã assim como o povo americano, assim como povo Israelense, assim como o povo brasileiro não tem muito a ver com essa demanda econômica e geopolítica, Pois acredito que o Aiatolá do Irã está muito mais próximo de Donald Trump do quê um eleitor do Partido Republicano e um eleitor do Trump está muito mais próximo do Povo iraniano do que ele pensa. Eu como brasileiro, que me sinto vilipendiado pelo poder do capital, não posso deixar de querer dar a mão aos dois povos, que sofrem suas mazelas cada um segundo sua razão no caso dos nossos três países essa mazela maior se chama ignorância, A ignorância é aquilo que nos move para as margens daquilo que interessa, pois não vejo os Estados Unidos ou Europa indo salvar os cristãos estão sendo degolados na África Subsaariana, pois não vejo o governo do Irã indo atuar nas políticas de seus países vizinhos que de maneira deletéria acabam sendo subservientes a outras potências como Rússia e China, nações essas que são vilipendiadas também.
Eu não lamento a morte do militar, Porque mesmo que os iranianos queiram chamá-lo de herói ele não é, assim como os Estados Unidos estavam em território iraquiano, ele também estava, e basta ver toda atuação dele na Síria, Iêmen, Iraque e suas campanhas contra populações civis nesses países e em Israel para ver que no fundo nada mais era do quê um abjeto político que respondia a seus interesses. Antes de mais nada eu gostaria de dizer que admiro profundamente o povo iraniano, sua literatura e seu cinema, ninguém poderá apagar o valor disso, nem os americanos nem os ditos revolucionários iranianos, porque amor é a única forma de revolução possível.