Mural foi feito pelo ‘artivista’ Mundano, no Centro da capital paulista, e idealizado em homenagem aos brigadistas e contra as queimadas de florestas brasileiras.
Prestes a ser finalizado, o grafite foi produzido com tinta feita à base de cinzas das florestas brasileiras que foram queimadas nos últimos meses.
O painel fica localizado na Rua Capitão Mor Jerônimo Leitão, 108. Segundo os produtores da exposição, a melhor vista para a obra é a da passarela da Avenida Prestes Maia.
O Brasil já registra o maior número de queimadas em áreas de Mata Atlântica dos últimos 15 anos. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), até agosto, ocorreram mais de 11,2 mil focos de incêndio em locais com a presença do bioma, em todo o território nacional.
O estado de São Paulo também registrou em agosto de 2021 o maior número de focos de incêndio no mês, em 10 anos, segundo o Inpe.
O Filho de Portinari, se emocionou com a obra, que deve ser concluída nos próximos dias. ‘Essencial, atualíssimo’, classificou a releitura da obra “O lavrador de café”, de seu pai, feita pelo artista e ativista Mundano, em um mural de 780 m² no Centro de São Paulo. “Eu achei extraordinário. Essa questão do meio ambiente tomou um relevo que não tinha tanto assim antes. Esse trabalho do Mundano é essencial, é oportuno, atualíssimo”, afirmou João Cândido.
Obra ‘O lavrador de café’, do artista plástico paulista Cândido Portinari. — Foto: Reprodução/MASP
PROCESSO
Porção de cinzas retiradas de queimadas na floresta amazônica. — Foto: Reprodução/Instagram
As cinzas foram coletadas, amassadas, trituradas em um moedor de café e, depois, misturadas em água e tinta. Depois desse processo, o material foi aplicado na superfície.
A proposta da ação, de acordo com Mundano, é denunciar a destruição dos grandes ecossistemas brasileiros, “que estão sendo, literalmente, reduzidos a cinzas”, além de homenagear os brigadistas que combatem as queimadas Brasil afora.
“A expedição saiu de São Paulo e percorreu mais de 10 mil km por quatro biomas – Amazônia, Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica – para coletar as cinzas da floresta”, contou ele. “A gente encontrou ossadas, mandíbulas, dentes, espinha dorsal. Então, dá pra sentir a dor. Essas árvores foram queimadas vivas, esses animais foram queimados vivos”, relatou
“A gente quer pegar essas cinzas da floresta e transformar em ‘artivismo’ para defender, preservar e para homenagear todos e todas que defendem a floresta de pé. Sem floresta, não tem água; sem água, não tem vida”, pontuou Mundano.
O “ARTIVISTA”
Foto: Reprodução IG do artista
Mundano já utilizou outros recursos para denunciar catástrofes ambientais. No início de 2020, um ano após a tragédia de Brumadinho, em homenagem aos trabalhadores da cidade mineira, o artista produziu um mural de 800 m² com a releitura da obra ‘Operários’, de Tarsila do Amaral.
A tinta utilizada no painel próximo ao Mercado Municipal, no Centro da capital, era composta pela lama formada após o rompimento da barragem, em 2019.
Em 2014, o artista pintou a carcaça de um carro, submerso na represa do Atibainha, no Sistema Cantareira, e colocou os dizeres “Bem-vindo ao deserto da Cantareira”.
Mundano fundou a ONG Pimp My Carroça, que busca dar visibilidade e aumentar a renda de coletores de materiais recicláveis, e o aplicativo Cataki, que aproxima os profissionais da reciclagem dos geradores de resíduos por meio de um mapa virtual.
Foto: CRIS FAGA/ESTADÃO CONTEÚDO
Artista e ativista brasileiro Mundano trabalha no mural ‘O Brigadista da Floresta’ usando tinta feita com cinzas coletadas e trazidas de incêndios na Amazônia, Pantanal e outros biomas, em São Paulo, Brasil.
Fonte: G1