Quem vivenciou algum dos shows da incrível banda King Salami & The Cumberland Three na passagem deles pelo Brasil, no mês de outubro, certamente se perguntou: “onde eu estava que nunca tinha ouvido isso antes?” ou ainda “chamem uma ambulância, o bagulho é doido e eu ‘tô em choqueeee!”. Formalmente inventivos, o estilo lisérgico da trupe apresenta um esquemão ousado e surreal de mistura de ritmos, sem rodeios, pancadaria da boa mesmo, energizando a plateia, qual propositalmente hipnotizada, entra numa espécie de transe explosivo e transcendental. Um estado de êxtase que beira a abstração. Longe de todo e qualquer rótulo que tentarem impingir, nada será páreo à fúria selvagem de King Salami & The Cumberland Three! Garage rock?! Talvez! Rockão Alternativo?! quem sabe… Trash Punk?! Pode ser…. Mil e uma influências e uma sonoridade única! Um mix de maluquices que vão desde r’n’b até coletâneas obscuras de rock asiático anos 60, passando por timbragens típicas da surf music sessentísta (sabor Wrecking Crew), batucadas tribais, requintes jazzísticos, swamp blues (Silas Rogan, Lightnin’ Slim, Lazy Lester, Slim Harpo e todos esses figurões da Excello), somado a uma incrível presença de palco que em muito remete a Domingo Samudio, James Brown e Korla Pandit, essencialmente temperado com a atmosfera do mestre Screaming Jay Hawkings. É o típico show em doses cavalares do mais puro e concentrado rock’n’roll, com muito de indorock e uma pegada malandra de medway sound e psycho… enfim, marotagem pura! Adrenalina e goles de cachaça (ambos destilados!), por quê não? – não foram poucas suas declarações de amor eterno ao nosso uísque de cana…. ficaram alucinados com nossa bebida típica e altamente inflamável.
Captou? Se ainda não captou ou ouviu, por favor, faça sua própria busca nos canais mais acessíveis à sua pessoa. Mas cuidado, corre um sério risco de viciar e passar horas e horas do seu dia com essa banda na cabeça. O melhor de tudo, a vantagem mesmo, é que as músicas nunca se repetem (me refiro ao ritmo e estilo, coisa rara de se ter nas bandas mais atuais onde todas as músicas são muito similares e facilmente rotuladas). Chega de delongas, vamos ao que interessa. Nascida em 2006, a banda conta com 4 grandes artistas e excelentes músicos, que encarnam personagens de figurinhas bastante caricatas, completando um clima surreal e nada óbvio do quarteto: um japonês, um francês, um espanhol e um professor de tênis caribenho. Exóticos sim, e não pouco! A performance no palco que o diga, foge de todo e qualquer padrão, do punk rock à gafieira – qualquer estilo mais ousado é papai e mamãe frente a dança e presença de palco do King Salami, que, nessa linha de raciocínio, está mais para um kama sutra cambojano. Ah, sim, antes que eu me esqueça, eles gravaram uma música especial para a turnê brasileira, Negro Gato, classicão brasileiro de Getúlio Cortes eternizado na voz de Roberto Carlos, fortemente inspirada em “Three Cool Cats” (Leiber/Stoler) dos Coasters. A interpretação brasileira foi gravada por muita gente, como Renato e Seus Blue Caps, Erasmo Carlos, o já citado Roberto Carlos, Luis Melodia, Marisa Monte, Reginaldo Rossy & Planet Hemp e por aí segue ad infinitum.
A gravação do King Salami para essa joia resultou num verdadeiro espetáculo com um português incrível, muito bem interpretado. Não à toa, os quatro adoraram o Brasil. O próprio crooner já nos confidenciou em depoimento exclusivo para este artigo (chique demais) que a turnê foi maravilhosamente organizada pelos produtores (Juliana e Neri, dos quais já falaremos aqui), agradecendo também ao seu Assis, o motorista que os acompanhou, e diz ter ficado muito feliz com o tempo desfrutado, pois o clima estava ótimo. Ainda acrescenta seu apreço e amor pela sonoridade língua portuguesa brasuca e que 2 semanas não são o bastante para conhecer todos os lugares bonitos do País que gostariam de conhecer, entretanto, pretende voltar em breve, e quem sabe, até fixar um cantinho por aqui. Seria ótimo, hein?! A banda já fez turnê em diversos países do planeta: já passaram por toda a Europa Ocidental, Austrália, China, Japão, Canadá, Estados Unidos – Nova York, Israel, Turquia, Taiti e Brasil. Bóra se deleitar nesse som magnífico! O King Salami lançou recente seu último álbum: Kiss my Ring; com grandes músicas, como: The Pulpo Dance, Dont Make Me Mad e Kiss My Ring. O próximo álbum com certeza terá uma leve pegada de música brasileira, pois ficaram encantados com os sons de Jorge Ben e Tim Maia, além do jazz brasileiro que conseguiu exercer curioso fascínio sobre os integrantes dessa super banda (pessoas pra lá de especiais). Bom gosto e gingado eles já têm!
Som na caixa galera, ou melhor, na vitrola… este é o King Salami and The Cumberland Three!
A produtora responsável por esse show (King Salami & The Cumberland Three) e por infinitos shows sensacionais no Brasil não poderia ficar fora desse artigo: a Mamute Produções. A Mamute começou seus trabalhos em 2004, de forma profissional, sob os comandos de Juliana Ribeiro e Neri Candido. Já de cara trouxeram o show com a banda folk da Espanha, Macfeck, e, na sequência, já vieram com o showzasso do Vocal Tempo, orquestra vocal de Cuba; daí para frente começaram a fazer vários shows e abrir um espaço, mercado e um público para essas bandas e também para solidificar esse segmento no Brasil (trabalho de formiguinha). A Mamute não é uma produtora convencional, é muito mais uma “booking agency”, isto é, trabalha mais como agenda de shows das bandas, turnês e essas coisas. “A ideia desde o início era fomentar essa cena rock/ jazz/ soul e suas vertentes, seja no Brasil e também fora daqui, na América do Sul e na Europa”, explicam. “O critério de trabalho da Mamute se baseia muito em um segmento de mercado que não tem muita representatividade, pois temos um mercado alternativo forte, como em todas as partes do mundo, mas aqui é completamente desorganizado, com excessão aos eventos do Sesc e de alguns eventos que acontecem com artistas e programação fixas”, concluem. Desta forma, a produtora sempre busca unir esse circuito programado ao circuito mais underground, dando suporte às bandas e artistas para se apresentarem em ambas as cenas: para quem conhece e para quem quer conhecer. Foi essa a maneira que encontraram para viabilizar esses shows e, desta forma, já trabalharam com mais de 100 bandas. Entre as bandas que a Mamute já excursionou estão: Man Or Astroman (Usa), Agent Orange (Usa), The Monsters (Switzerland), Motorama (Argentina), Nekromatix (Denmark/Usa), Mullet Monster Mafia (Brasil), Sick Sick Sinners (Brasil), Hillbilly Rawhide (Brasil), Lorenzo Surfer Joe (Italy), Spellbound (Ireland), Salidos de la Cripta (Colombia), The Broken Toys (Argentina), The Bambi Molesters (Croacia), Sonora de Llegar (Chile), Sobrero Club (Argentina), Supersuckers (Usa), The Rude Monkey Bones (Ecuador), A Band Callerd DEATH (Usa), Sean Wheeler & Zander Scholoss (Usa), The Silver Shine (Hungary), The Mutants (Finland), Los Primitivos (Argentina), Los Chamanicos (Chile), Pavement Kings (Ireland). Los Twang Marvels (Germany/Chile), Reverend Beat Man (Switzerland), The Surfing Henchmen (Denmark), Grianan (Uruguay), Grabriel Gratzer & Big Tequilas (Argentina), Fede Vaz Quinteto (Uruguay), Dani DeVita (Argentina), Footstep Surf Combo (Brasil), Gringos Washboard Band (Brasil), Vendo 147 (Brasil), As Diabatz (Brasil), Wild Rooster (Sweden), Noches de Havana (Brasil), Uirá Cabral Blues Band (Brasil), The Workinghorse Irons (Australia),Vocal Tempo (Cuba), Macfeck (Spain), Los Kanibales Surf Combo (Chile), Los Kahunas (Argentina), Lefunders (Argentina), Komatsu (Holland), The Burning Aces (Austria), Cry Baby (Brasil), Tarso Miller (Brasil), Boogie & Blues (Brasil), La Beat Machine (Colombia), Jubarte Ataca (Brasil), Dirty Wolves Blues Band (Brasil), Los Protones (Peru), Molina y los Cósmicos (Uruguay), Red Lights Gang (Brasil), Tabourine Men (Brasil), The Broken Toys (Argentina), Kingargoolas (Brasil), The Weird Family (Brasil), Dirty Fuse (Greece), Lucky Friends Motorcycle Rodeo (Brasil), Psycho Carnival Festival (Brasil), Psychobilly Fest (Brasil), Psycho Attack (Brasil), Zombies Union Fest (Brasil), Surf’a’Billy Freaknight Fest (Brasil), O Lendário Chucrobilly Man (Brasil), Wi Fi Kills (Brasil), Krappulas (Brasil), The Dead Rocks (Brasil), Bad Motors (Brasil), Os Pontas (Brasil), Gabriel Thomas Trio (Brasil), Santeria (Brasil), Boogie Jump Blues (Brasil), Rio Grande Electric Blues (Blues), Don Sonorama (Argentina), The Frogs (Switzerland), Griswalds (Germany/Holland), Nausea Bomb (France), Surf Aliens (Brasil), B-Benders (Brasil), Souljunkies (Argentina), The Raulis (Brasil), Ovos Presley (Brasil), 99Noizagain (Brasil), Luisonz (Paraguay), Lightstrucks (Brasil), Juke Joint Pimps (Germany), Phantom Powers (Brasil), Redlightz (Brasil), Los Freneticos (Argentina), Cherry Rat e os Gatunos (Brasil), No Parole (Brasil), Terremotor (Brasil), Tiki Moondog (Brasil), Tampa do Caixão (Brasil), Wood Surfers (Brasil), Batmbile (Holanda), Marcel Bontempi (Alemanha), King Salami & the Cumberland 3 (Inglaterra), Tiro WIlliams (Londrina), Sangue de Andróide (São Paulo), Caravans (Inglaterra), Autoramas (São Paulo)…. Deve ter mais uns 15 ou 20 nomes faltando ainda.
Mas a Mamute Produções também trabalha e está aberta a propostas de eventos; tanto a Mamute, como a Orleone (outra empresa de produção musical comandada pela super dupla). Ambas acabam trabalhando em eventos mais específicios como o Psychocarnival, o qual organizam desde 2010; a Lucky Friends no qual estão a frente do palco por 4 edições; e festivais que não são tanto desse segmento, como o Ilha Blues. A busca pela produtora se deve muito ao fato de ter artistas diferentes dos usuais – essa é a principal característica. Tanto a Mamute quanto a Orleone estão bem atentas com o cenário – o orgânico, novas bandas, pois estão também na estrada. ” O nosso foco é e sempre foi ter identidade e trabalho baseado naquilo que acreditamos”, finalizam Juliana e Neri.
