O Sábado na Rádio Cultura


Quando a música, esporte e a memória se entrelaçam no ritmo do tempo

O telefonema chegou a mim como chega um bilhete: inesperado e cheio de memória. — Sábado, churrasco na emissora. Intimado — disse Izabel Chimelli, comandante brilhante da emissora e amiga querida, inspiração constante com sua liderança visionária e coração generoso, com a firmeza doce de quem entende a urgência dos reencontros.

Fui. Eu, meus filhos o historiador e editor Rafael Gustavo, que trabalha na rádio e Cláudio Junior, jornalista da TV Evangelizar.

Era um chamado. Daqueles que a gente sente na alma antes mesmo de entender com a razão. Um chamado que não se recusa, porque no fundo, a gente sabe: há encontros que não alimentam apenas o corpo — alimentam a vida inteira.

Izabel, cúmplice de tantos sonhos sonhados no rádio, sabia bem o que aquele encontro significava. A Rádio Cultura, fundada em 14 de junho de 1954, é muito mais do que uma emissora. É um templo feito de vozes, de silêncios carregados de histórias, de ecos que atravessam o tempo. A cada transmissão nos 930 kHz, ela manteve, por 71 anos, a vocação de ser lar — lar de cultura, de afeto, de memórias, de arte.

Quando cheguei naquele sábado, foi como atravessar um portal invisível, desses que a vida esconde para poucos perceberem. O cheiro da carne assando misturava-se ao perfume das lembranças, que naquele instante pareciam ganhar cheiro, cor e som.

Ali estavam eles — amigos, mestres, irmãos de jornada.

Edmar Edemar Annuseck, locução que emociona com aquela voz que não narra apenas gols, mas a própria aventura de estar vivo. José Domingos, um comentarista de futebol conhecido por sua análise precisa, linguagem acessível e paixão contagiante pelo esporte, traduzindo a emoção dos campos em comentários que conquistam torcedores de todas as idades. Jotape, com a serenidade dos que escutam além das palavras, exibe no olhar a lucidez e a sabedoria cultivadas no intervalo silencioso entre as vozes. Biro-Biro, Luiz Carlos Sabadin, contador de epopeias do esporte, tecendo momentos com a paixão de quem acredita que cada jogo é uma história para nunca ser esquecida. José Hidalgo Neto, o Capitão Hidalgo, ídolo do Coritiba, que me ofereceu seu livro como quem entrega um pedaço da própria alma. Carlos Mion, sorriso acolhedor, traz ao comentário esportivo a paixão de quem entende o jogo e a clareza de quem respeita o torcedor. E Eduardo, enciclopédia viva do futebol, memória ambulante de uma paixão coletiva.

Cada rosto era um mundo pulsando. Cada riso, uma história não contados — mas que vibrava no ar, como ondas invisíveis. Era o rádio, caixinha de conversa, nos unindo, esse velho mágico de almas, que transforma o invisível em eterno.

Enquanto a fumaça subia, desenhando espirais no céu de Curitiba, percebi: aquele sábado não era apenas um churrasco. Era uma celebração silenciosa daquilo que, no fundo, sustenta tudo: a amizade, a memória, a beleza simples de estarmos juntos.

E a velha Rádio Cultura, essa senhora sábia de 71 anos, parecia sorrir também — cúmplice, eterna, soprando nas entrelinhas do vento a promessa silenciosa de que enquanto houver apaixonados pelo rádio que se encontram, a vida, teimosa e bela, sempre recomeçará. No calor da voz amiga. No riso solto. No sonho que insiste em não acabar.

Cláudio Ribeiro

Jornalista – Compositor – Escritor